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Os ventos da mudança

Cresci num ambiente um tanto tumultuado. Talvez esta tenha sido uma das razões de ter me tornado tão organizada. Aprendi a criar superestruturas de planejamento e execução. É claro, que isso influenciou o meu papel profissional. Nas empresas onde trabalhei muitas questões que precisam ser desembaraçadas eram endereçadas a mim. À medida que ia entregando as soluções, tinha a minha recompensa: crescimento profissional. Mas tinha também os efeitos colaterais.



Sabe aquela pessoa que precisa conectar tudo, ter visão dos próximos passos, construir base para seguir adiante? Pensa numa pessoa que precisava combinar, estruturar e encontrar lógica em tudo. Um exemplo banal, se eu calçasse um sapato bege, precisaria combinar com um brinco dourado. Não, não poderia ser prateado. E rodapé e fontes de apresentações? Precisavam seguir os padrões. As coisas precisavam seguir uma lógica. Essa era eu. E por muitos anos foi assim.


Até que algo se rompeu. A estrutura se desorganizou. Maternidade? Cansaço? Vontade de ocupar outros espaços? Experimentar o novo? Acho que a combinação disso tudo tomou conta de mim. Comecei a trabalhar para as empresas, usando toda a experiência que consegui a partir do meu olhar de dentro das organizações. Anos de construção, alegrias e aprendizados (leia-se, muitos erros cometidos) aplicados em um novo formato, uma nova relação. Mais leveza - ainda que com muito cacoete organizacional, depois de 25 anos de RH.


Por que estou contando isso? Me pego em um nova virada. Agora estou vivendo um terceiro momento, indo em direção às pessoas e abraçando cada vez mais o atendimento clínico. E aí, meus caros, não tem fórmula. Não existe estrutura que dê conta da singularidade de cada um. É trabalho que se faz a partir do imprevisto, daquilo que atravessa. É buscar a capacidade de escuta, da poesia nas histórias de cada um. Um deleite para mim.


Olho para trás e fico contente com o deslocamento do concreto para o abstrato. Fico contente por ter me deixado guiar pelos ventos da mudança.


E você, qual é o seu momento? Conta para mim.

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