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A glamourização da liderança



Na minha prática de atendimentos recebo muitos profissionais que buscam posições de liderança. Ao explorar com mais cuidado os porquês desta motivação, muitas vezes encontro respostas evasivas ou vagas. O fato é que quando nos aproximamos do real, do que é ser líder numa organização, compreendemos que é algo que vai muito além do glamour que as mídias e organizações mostram. Adicionalmente, existe uma questão de natureza mais subjetiva que vale a pena explorar: 


O ser humano é o único que nasce sem maturidade biológica para conseguir sobreviver. A criança vivencia uma experiência de vulnerabilidade absoluta ao nascer e precisa dos cuidados do outro para ‘emplacar’ na vida. E isso só acontecerá sob cuidados dos incumbidos - geralmente pai e mãe. Os pensadores Deleuzianos contribuem dizendo que ‘a vida quer perseverar’. Por isso a criança se colocará à disposição do outro, garantindo sua sobrevivência, mas incorporando um efeito colateral… se fazer amar. Abrir mão de sua potência para se tornar, de alguma forma, um objeto querido pelo outro

E ai começam a maioria de nossas neuroses. Pois de forma geral - e aqui, generalizando para ser didática, pois cada vivência é única - é desde muito cedo que vivemos para o outro. Primeiro para ter amor dos pais, depois para ser incluído na escola, e depois no grupo social, e no trabalho e assim la nave va


É essa necessidade de reconhecimento contínuo que as pessoas carregam que aparece também no mundo do trabalho


Voltando a nossa questão inicial: por que algumas pessoas procuram tão freneticamente a posição de liderança? Minha hipótese é que essa busca pode estar relacionada, em muitos casos, com a necessidade de validação externa. Uma confirmação que venha de fora, neste caso, da empresa. E quando esta é a motivação geralmente encontramos ruídos. Pois se nos submetemos a um reconhecimento de fora para agir, não conseguimos liderar. Liderança é exercício de neutralidade, é a pessoa que consegue desatar nós através de comunicação, de perguntas, de estimulo a participação, a criar espaço para as pessoas da equipe. O líder precisa sair do palco. E uma pessoa que busca reconhecimento e validação externa não está pronto para fazer isso. 

Por isso autoconhecimento, no mundo do trabalho e em qualquer lugar, é tão importante. Liderar, nesse sentido, não tem nada a ver com glamour, mas sim com muito exercício. É, de fato, um trabalho de autoconhecimento…

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