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ele odeia as mulheres



Salta aos olhos as reações do atual presidente Jair Bolsonaro frente à interação com mulheres. Suas ofensas se dirigem a profissionais que têm uma voz pública e influente. Nos últimos dois casos, dirigidas às jornalistas Gabriela Prioli e Vera Magalhães.


Esse tipo de ocorrência vem acontecendo com frequência ao longo de sua história. Parece se tratar de uma repetição. Em psicanálise há um conceito que busca compreender porque essa repetição acontece.


Freud, ao propor a existência do inconsciente, diz que ali repousam afetos e ideias que muitas vezes são rechaçadas pela consciência.


A questão é que há uma força de natureza pulsional que faz com que esses afetos se façam conhecer. Quando esses afetos não são acessados e elaborados – trabalho que uma análise propõe – eles podem se manifestar através de uma repetição e nesse caso, carregado de uma boa dose de agressividade.


Mas é de se perguntar, por que essa agressividade se dirige às mulheres?

Na década de 80, Gilles Deleuze (filósofo) e Felix Guatarri (psicanalista), escrevem sobre o ‘devir-mulher’, que trata de um estado subjetivo de abertura para o múltiplo e acolhimento da diferença. Para os autores, o homem não teria um devir próprio, pois é um estado subjetivo que organiza, decodifica e estrutura.


Ao examinarmos nossa sociedade, percebemos que ela se define com muitos dos atributos do que um homem representa, ou seja, binário, fixo, com um eixo submissão – dominação. E é esse devir-mulher que ameaça implodir essa organização.


Parece que os ataques do senhor presidente às mulheres têm relação com a tentativa de manutenção do atual regime estabelecido. A abertura do que o feminino representa ameaça a desintegração psíquica, portanto só lhe cabe combatê-la.


Poderíamos continuar elencando os comportamentos presidenciais em torno das mulheres, entretanto, um olhar mais ampliado para a nossa sociedade, nos aponta que ele é apenas a mera representação de algo muito maior. Ele representa um sintoma de nossa cultura.


Sobre sintomas podemos falar num próximo artigo.


Estarei por aqui com vocês de quando em quando, para compartilhar pensamentos e ideias sobre psicanálise, contemporaneidade, subjetividade, e uma pitada de política.


Até a próxima.

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