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sobre o desejo e o querer


Diferente do que escreveu Fernando Pessoa em 'Poema em Linha Reta', uma análise não é retilínea, pelo contrário, ela pode seguir em direções múltiplas. Às vezes retrocede, outras, avança. Pode fazer a volta, dobrar uma curva e seguir de formas infinitas, tantas quanto a vida permitir.


Uma das pistas do trabalho analítico é o desejo. Mas não nos enganemos, nem sempre o desejo é o mesmo que o sujeito quer. Muitas vezes eles se colocam em direções opostas. Desejar e querer são coisas diferentes em psicanálise. Se o querer fosse suficiente para guiar nossas ações, teríamos uma linha reta na análise. Manuais de autoajuda resolveriam todas as dores. Mas não resolvem, não é mesmo?


Na psicanálise consideramos o desejo inconsciente. Esse se coloca na frente de qualquer querer. É geralmente da dissonância entre o querer e o desejo que nasce a possibilidade de uma análise. É naquele momento que nos perguntamos, se quero isso, porque sigo fazendo coisas que me colocam na direção oposta?


No seminário que Lacan trata sobre a ética da psicanálise e traz a pergunta: 'Agiste em conformidade com o seu desejo?'. Parece que o sujeito sempre é confrontado e convocado a responder essa pergunta. Alguns talvez não queiram saber de nada disso, outros vão em busca de suas respostas. No fim das contas, talvez possamos pensar no trabalho analítico como um instrumento que usa a fala e a escuta para aproximar o desejo do querer.

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